O maior peso que somos capazes de carregar é igual ao peso suportado pelo nosso ponto mais fraco. Na tentativa continua e diligente de nos esquivarmos deste ponto, nascem desequilíbrios posturais importantes.
Roubar dos pontos mais suscetíveis o trabalho árduo para entregá-lo aos segmentos mais fortes e estáveis do corpo é uma coisa que fazemos o tempo todo no intuito de superar nossas dificuldades.
Pode-se buscar corrigir este déficit fortalecendo isoladamente os locais comprometidos. É possível até mesmo recrutar algumas poucas fibras de um único músculo através de estímulos elétricos. Não basta, porém, fortalecer o elo mais fraco, é preciso reintegrá-lo à corrente.
Desenvolver partes específicas do corpo é tão dispendioso quanto ineficiente. Na prática, não é possível conceber um corpo capaz de mover-se no espaço pela ação exclusiva de apenas um de seus segmentos. As interações mais distantes são tão relevantes quanto as afinidades mais próximas e diretas. O corpo desintegrado pode apresentar força e mobilidade, mas não expressa coerência.
Quando levantamos um peso, recrutamos muito mais que os músculos diretamente relacionados à tarefa. As estruturas que controlam, estabilizam e mantém o equilíbrio do corpo como um todo são solicitadas. O controle integrado da postura determina a performance funcional.
“Os ganhos de força podem ser conquistados sem mudanças estruturais no músculo, mas não sem adaptações neurais” (Roger Enoka). A força não é uma característica do músculo, mas do sistema nervoso como um todo e, portanto, todo o corpo deve ser objetivado no exercício do movimento.
Nos estúdios e academias de ginástica, os limites impostos ao corpo pelas máquinas, equipamentos e aparelhos têm lugar privilegiado na reabilitação do corpo enfermo, mas ao cercearem a amplitude e os planos de movimento, impedem a transferência dos ganhos conquistados para além dos parâmetros trabalhados. Há pouca equivalência entre o ambiente “in vitro” que circunscreve o movimento nestas condições e a imprevisibilidade da vida diária ou da prática esportiva.
Ao buscar a precisão do gesto dentro das infinitas possibilidades do movimento acabam sendo deixados de fora o erro, o desequilíbrio e a imprevisibilidade – variáveis que devem ser incorporados ao exercício na qualidade de instabilidade e assim aproximá-lo do real.
Quando o caminho que trilhamos deixa de ser regular e previsível, o automatismo é abandonado e o cortex motor assume a responsabilidade pela manutenção da marcha, abrindo espaço para o aumento do repertório gestual.
Com o aumento das possibilidades para a correção de eventuais desequilíbrios, abre-se caminho para mudanças nas bases sobre as quais o movimento está construído: a postura. O desequilíbrio, nestas condições, muito mais do que evitado, deve ser buscado.
Livros legais: Neuromechanics of Human Movement – 4th Edition, Therapeutic Exercise: Foundations and Techniques 5th edition, Principles of Neural Science – 5th edition.