A perna direita impulsiona você à frente enquanto a esquerda descansa uma fração de segundo no ar antes de voltar à carga. Caminhando, deslocamo-nos no espaço. Ao observar as pegadas deixadas para trás, decompomos o movimento em uma série de períodos cuja unidade de tempo é dada em passos. Fica evidente o rastro de explosões de força que coordenamos para dar orientação e sentido a um movimento chamado “andar”.
Somos virtualmente incapazes de realizar um trabalho constante por um longo período de tempo, sem intermitência ou intervalo, pois a energia mobilizada por nós se esvai rapidamente e a bateria precisa ser recarregada. Assim pulsamos em ritmos variados, em ciclos de fatiga e descanso, carga e descarga, ação e inação, durante uma atividade física, durante o dia, o ano, durante uma vida.
Os grandes músculos superficiais estão aptos a mobilizar prontamente grande quantidade de força, mediante a cobrança de uma conta alta de energia, e precisam ser ciclicamente desligados para que possam se recuperar do esforço. Assim não conseguimos mantê-los em uso contínuo por muito tempo. Rentes à pele e facilmente observados, estes músculos inserem-se perto das articulações e são responsáveis pela considerável amplitude de movimento que dispomos, porém não oferecem grande precisão de movimento. É como tentar escrever com um lápis atado a uma vara de pesca: quanto mais distante do lápis estamos, menos preciso é nosso traço e maior é a linha que conseguimos traçar com ele.
Para nos mantermos em determinada posição por muito tempo, fazemos uso da musculatura profunda do corpo. Capaz de nos manter estáveis por longos períodos de tempo, estes músculos estabilizam nossas articulações e fazem a sintonia fina em nossa postura para que possamos nos movimentar com liberdade e segurança. Com fibras curtas e potentes, os músculos profundos não primam pela amplitude de movimento, mas pelo ajuste preciso das ações. Quando estamos sentados, por exemplo, a musculatura profunda da coluna empilha com precisão cada uma de nossas vértebras para equilibrá-las de forma eficiente e nos manter estáveis por muito mais tempo.
Quando a musculatura profunda do corpo está atrofiada, manda a fatura para os grandes grupos musculares que, incapazes de responder com a precisão e permanência adequadas a este tipo de estímulo, sobrecarregam as articulações e abrem as portas para um sem número de patologias articulares que irão afetar principalmente a coluna, os joelhos e os ombros.
Durante a realização de posturas de Yoga ou determinadas séries de Pilates, paramos no tempo e adentramos em nosso corpo para trabalhar sua musculatura profunda. A permanência em um ásana de Yoga como Padangustha Dandasana (foto abaixo), por exemplo, além do trabalho óbvio nos grandes grupos musculares posteriores da coxa, leva-nos a uma viagem em direção aos movimentos de extensão e flexão da coluna que raramente encontramos em outra atividade física. Conectar nossa consciência a estas regiões terá reflexos imediatos em nossa postura global.
![]() |
Padangustha Dandasana alonga os músculos interespinhais , transverso espinhal e subocciptais promovendo o alongamento longitudinal da coluna antes da flexão. |
Adquirimos com o tempo de prática uma inteligência neuromotor que se expandirá a outras atividades em nosso cotidiano.
Estamos em constante movimento e pulsamos como pulsa nosso coração, nossa respiração e tudo aquilo que entendemos por movimento resume-se em essência a instantâneos conectados em linha que oferecem a idéia de tempo e movimento. A prática de atividades como Yoga e Pilates têm o poder de nos mostrar em detalhes cada um destes fragmentos de movimento e reconduzir cada estímulo ao seu devido lugar.
“Tempo é o desenrolar do meu corpo no espaço”. Ivaldo Bertazzo