Feliz Natal, Peru.

O peru está tão associado ao Natal quanto o Papai Noel, e, em que se pese a semelhança física entre ambos (o que pode causar alguns sérios equívocos), um deles certamente não escolheu estar em nossa casa durante as festas de fim-de-ano.

Seres sencientes são aqueles que sentem, que percebem e recebem impressões. Com certeza podemos tomar esta definição do Houaiss e aplicá-la indistintamente a qualquer peru entre o céu e a terra, mas quantas ressalvas teríamos que adotar para empregar o mesmo conceito aos homens? Isto posto, é bom que se diga, não queremos que ninguém termine este fim-de-ano no lugar do peru, em cima de uma bandeja, assado ao ponto, cercado de rodelas de abacaxi e laranja. O homem, afinal, tem provado no decorrer da história, ainda que tardiamente e ao custo de muita tolice, alguma evolução ética e de respeito ao próximo. Já ao peru, coitado, criado intensivamente e morto precocemente, não foi dada esta alternativa.

Na natureza, o peru vive em média 10 anos, mas é criado intensivamente em escala industrial, engordado artificialmente e morto em, no máximo, 26 semanas. Em tão pouco tempo de vida, o peru não tem tempo hábil para se organizar e negociar salvaguardas do tipo “somente peru violento deve ir ao forno“ ou “peru aposentado, peru assado.” A prerrogativa de escolher, julgar e executar coube a nós, seres conscientes, e a responsabilidade final pelos nossos atos acabaram indo parar nas mãos do divino e no colo das gerações futuras.

Ser consciente não significa apenas ter percepção do que ocorre dentro de si próprio, mas também contar com algum grau de objetividade sobre o que se passa em torno de si. Se não dominamos nossa capacidade de perceber, pensar ou agir; se excluímos nossa fração de responsabilidade do todo, não somos merecedores da alcunha de seres conscientes e, consequentemente, não somos legítimos signatários do gênero humano.

Ser humano é uma condição única na natureza na qual a própria vida se reflete, tornando possível certa autonomia sobre os impulsos mais primitivos. Assim, exercitar a reflexão liberta-nos, à medida que não fazê-lo aprisiona-nos.

Em todos aqueles que andam sobre a terra ou movem-se no ar, em todas as criaturas vivas ou inanimadas, reconheça Brahma.” Gheranda Samhita.

Boas Festas,

Namaste,

Franca & João

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