Não Faça Isso.


Gwendoline Christie como Brienne of Tarth em “Game of Thrones”

“Não suba o braço acima do ombro”, “não dobre o joelho à frente do calcanhar”, “não estenda a coluna”, “não corra”, “pare”. Em algum momento, afirmações como essas entram em nossa rotina e colam na gente feito apelido. Conselhos assim costumam dar um alívio breve, tiram um pouco de nossa dor e permitem que a gente continue tocando nossas vidas sem grandes dificuldades.

Sabe-se que imobilidade definitivamente não é a solução para nossas dores e, quando muito, “parar” tem indicação pontual e bem estabelecida. Entretanto a opção pela imobilidade parece ser a escolha certa quando restringir o movimento foi a única alternativa que nos restou.

Em não raras vezes, depende de nós a resolução para uma grande parte dos problemas que nos causa dor e resolvê-los carece de certa diligência em direção a nós mesmos. Difícil? Ao invés de buscar continuamente fora de nós as respostas para aquilo que nos aflige, deveríamos antes tentar entender o que podemos estar fazendo de errado, se temos a possibilidade de mudar ou se temos interesse em mudar.

Claramente esta não é uma tarefa fácil.

Observar o próprio corpo minuciosamente em busca de informações, movimentar-se com propósito investigativo, de maneira criteriosa, aguçar os sentidos e perceber-nos de modo discriminativo. Isso oferece ‘insights’ sobre a própria saúde que ninguém mais, além de nós mesmos, pode encontrar. Através deste caminho,  podemos contribuir diretamente com quem se dispõe a nos ouvir e ajudar.

A dor é um alerta para que se evite movimentos nocivos, mas não se relaciona diretamente com uma região do corpo em risco. Antes de vir à tona, o sinal de dor deve ser interpretado como tal e, nesse momento, entram em jogo outras variáveis que irão dizer se esse alerta procede ou não. Não há, assim, relação direta entre risco de lesão e dor.

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fonte: Orthopaedic Manual Therapy Academy

Interiorizar a atenção, testar a própria força durante o movimento, comparar um lado a outro do corpo, descobrir assimetrias, apalpar, identificar quais músculos são ativados e quais relaxam durante um determinado gesto contribuem diretamente para melhorar a “sintonia fina” entre o corpo e a percepção do corpo. Entre a dor e sua origem. Não se trata neste momento, portanto, de mudar um padrão de movimento ou corrigir a postura, mas exercitar a observação.

Assim, nós devemos buscar entender a dor como nossa interpretação de estímulos provenientes do corpo e não como um risco em si. Logo, a melhor maneira de nos aproximarmos de sua origem é através do conhecimento e, para tanto, movimento é fundamental.  

 

Wallden, M. Chek, P. The ghost in the machine — Is musculoskeletal medicine lacking soul? Journal of Bodywork and Movement Therapies. 2018. 22(2):438-448.

Croft, P., et al., The science of clinical practice: disease diagnosis or patient prognosis? Evidence about “what is likely to happen” should shape clinical practice. BMC Medicine, 2015. 13(1): p. 20.

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