Aprender a andar resume toda a história da evolução humana em direção ao bipedalismo. E assim como caminhar não se limita a simplesmente sair do lugar, levando um pé na frente do outro, nossa história também não termina por aí.
Caminhar é um ato em que mente, corpo e ambiente estão alinhados, como três atores em cena ou três notas formando um acorde: um daqueles raros momentos que nos permite interagir com o mundo sem nos ocuparmos dele, gerando um ritmo de pensamento, criando uma consonância entre nós e o mundo. A gente anda para ir devagar.
👉 Caminhar é pensar a 5km/h.
O corpo é o ponto de partida de toda experiência. Exploramos o mundo através de um sistema concreto de possibilidades de movimento. Assim o corpo faz parte da própria estrutura do saber e tem papel central em como compartilhamos o espaço e interagimos com as outras pessoas.
Quando nos colocamos em marcha, ficamos sujeitos a um novo cenário a cada passo. Não é o corpo, a âncora de todo nosso referencial, que se move. Antes é o mundo que muda ao nosso redor, que se modifica, que se revela, expandindo nossa compreensão para além dos limites impostos pela perspectiva. A própria mudança só é bem percebida quando estamos estabelecidos em nós mesmos, alicerçados no momento presente, ocupando nosso lugar no espaço. Pés no chão, pois de outra maneira, nos movemos com o meio, com as pessoas, com as emoções e nos perdemos.
Consciência cinestésica vai muito além da consciência sobre o próprio movimento e situa-se na consciência de si mesmo, da própria subjetividade, do conhecer-se.
O que, por vezes, apresenta-se como uma prerrogativa da prática de Yoga, é, a princípio, inerente e indissociável de todos nós. Não à toa Taimni intitula seu seminal livro sobre os Yoga Sutras por a “Ciência do Yoga”, pois sabe ele tratar-se de um método, um caminho, assim como tantos outros que tem o poder de nos apresentar a nós mesmos.
Ref.: Leia Husserl e Taimni.