Inverta-se

Praticantes de Hatha Yoga buscam entender a si mesmos como resultado direto de sua atividade física. O ritmo do coração, a profundidade da respiração, a amplitude dos movimentos, a força, tudo devidamente observado, aprendido e registrado.

O tradicional livro Hatha Yoga Pradipika cita especificamente uma postura de yoga chamada Viparita Karani, cuja a execução teria o poder de conquistar o tempo e sublimar a morte. “Na região do umbigo fica o sol solitário, cuja essência é fogo; no palato fica a lua eterna, cuja essência é néctar. O palato pinga o néctar boca adentro e é queimado pelo sol na altura do umbigo. A postura Viparita Karani é realizada para reter o néctar que seria perdido” (Goraksha Shataka).

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Viparita Karani: flexão de quadris + extensão lombar

Algumas escolas de hatha yoga afirmam que amrita – o néctar da imortalidade – está guardado dentro da caixa craniana, região que inferimos ser a sela túrcica. Dizem que, com o passar dos anos, o valoroso néctar de amrita escorre em direção ao abdômen onde é consumido pelo fogo interno. Assim, ficar de cabeça para baixo –  praticar um postura invertida – poderia reter amrita prolongando a vida de um praticante disciplinado.

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 hipófise dentro da sela túrsica. Henry Gray

A partir dos textos, podemos deduzir que o sitio de amrita é a glândula hipófise, e a importância desta no controle do metabolismo do corpo (“fogo interno”) é conhecido, como é sabida a correlação entre atividade metabólica e seus subprodutos sobre a qualidade de vida e longevidade.  Não ao acaso, na tradição de Iyengar Yoga, duas posturas invertidas são consideradas rei e rainha de todas as posturas, sirsasana e salamba sarvangasana, respectivamente.

 

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postura: sirsasana

Nosso senso de orientação espacial e equilíbrio, determinado pelo sistema vestibular rege primariamente a posição da cabeça. Ao mudar nossa posição em relação à força da gravidade, mesmo que por alguns instantes, mudamos a hierarquia de forças que conferem equilíbrio e orientação ao nosso corpo.

O corpo saudável dispõe de mecanismos rápidos e eficientes para subordinar alterações promovidas pela gravidade devido a mudanças posturais, restaurando rapidamente a homeostase apesar de sua orientaçãoespacial.  Isso não exime de importância o efeito generalizado desencadeado pelas posturas invertidas.

No sistema circulatório, por exemplo, os vasos sanguíneos aplicam um intrincado sistema tributário ao coração. Virar de cabeça para baixo inverte as regras do jogo e encoraja o retorno venoso, levando o organismo a lançar mão de mecanismos robustos para equilibrar a Pressão Arterial Sistêmica, que é prontamente reestabelecida em indivíduos saudáveis.

O impacto é ainda maior sobre os vasos linfáticos, que dependem em grande medida da ação da gravidade para facilitar seu escoamento. O simples ato de ‘por as pernas para cima’ estimula a drenagem linfática dos membros inferiores.

 

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 postura: urdva prasarita padasana 90º na parede

Somos íntimos da força da gravidade, afinal é ela quem dá direção e sentido ao desenvolvimento de nossos músculos e ossos desde a gestação. Nosso corpo se formou para manter nossas funções vitais ‘com’ e ‘apesar’ da força gravitacional. Ficar de cabeça para baixo muda profundamente nossa perspectiva em relação ao mundo e ao corpo.

Mais do que em qualquer outra atividade física, as posturas invertidas são frequentemente empregadas na prática de Yoga. Seus efeitos fisiológicos são muitos e recaem sobre vários sistemas e órgãos do corpo humano. Entretanto, é o estímulo à adaptação, antes de qualquer outro, o grande benefício comum que se origina da prática destas posturas.

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