Pelvis II by Georgia O’Keeffe
A cintura pélvica alicerça a coluna vertebral e transmite a resistência do chão ao tronco, influenciando o movimento e a postura.
A intrincada rede ligamentar que enreda a pelve não deixa muito espaço para suas articulações. Ainda assim, o pouco movimento disponível é fundamental para dissipar as forças e tensões que atravessam a região. A dicotomia entre imobilidade e movimento revela a singularidade de sua anatomia.
Estruturas ligamentares em torno da Pelve.
O significado teleológico da pelve aprova que um anel estático, ósseo, no mesmo local iria romper-se facilmente pelo estresse mecânico na região. De modo restrito, a pelve permite que as forças rotacionais impostas pelos membros inferiores ascendam à coluna, mas impede o movimento excessivo, o que prejudicaria o equilíbrio do corpo.
Assim, a pelve não protagoniza movimento, limitando-se a acompanhar e reduzir os deslocamentos dos segmentos adjacentes.
Ilustração Kapandji. Vetores de peso (P) e resistência (R) na pelve.
Esse link dinâmico entre pernas e tronco participa de um genuíno “cabo-de-guerra” durante a prática de Yoga ou Pilates. Em lados opostos, coluna vertebral e quadris disputam a primazia pela postura final. Essa tensão deve ser continuamente considerada durante os exercícios.
Ilustração Blandine Calais-Germain. Linhas de tensão na pelve em flexão.
Durante a prática, a transmissão da força através da pelve torna possível a aquisição de ganhos posturais a partir do torque proveniente dos membros inferiores.
Ao girar as coxas para dentro, por exemplo, os ligamentos posteriores do quadril são colocados sob tensão, provocando a abertura dos ísquios e nutação do osso sacro, favorecendo a lordose lombar. Temos, portanto, uma lordose adventícia, pois constituída a partir das coxas, que impede a coluna de ‘pagar o preço’ pela eventual falta de flexibilidade nos quadris. A flexão, neste caso, tenderá a favor dos quadris .
Uttanasana. Giro para dentro das coxas (RI de MMII) alinha sacro-lombar na flexão dos quadris.
Ao girar as coxas para fora ocorrerá o contrário, os ligamentos posteriores do quadril estarão relaxados, permitindo a aproximação dos ísquios, e a flexão tenderá a favor da coluna.
Upavishta Konasana. Giro para fora das coxas leva a pelve para trás dos quadris e favorece a abertura da cintura pélvica, ação fundamental durante a gestação.
Esse pequeno excerto mostra que uma abordagem não deve ser dogmaticamente adotada em detrimento de outra. O moto por trás da ação deve estar tão claro quanto a própria ação a ser realizada. Critérios ‘one size fits all’ não servem em absoluto.
Sobre o anel pélvico, ainda é preciso considerar as acentuadas diferenças individuais colocadas além do gênero e idade. A consolidação lenta de suas partes acaba por sujeitar sua forma final às forças presentes em seu desenvolvimento, incorporando fatores secundários importantes como tônus muscular, estatura e movimento.
Tipos diferentes de Pelve.
Em comum, a pouca mobilidade na região favorece a proteção em detrimento da acomodação dos órgãos que abriga e alterações mínimas na região desencadearão consequencias relevantes. Quando o osso ilíaco é forçado a rodar para trás, o osso sacro é impedido de acompanhá-lo pela coluna, assim o períneo é tensionado. A pressão abdominal sobre a bexiga, útero e reto aumenta.
Negligenciar ou privilegiar um ou mais destes aspectos pode por em risco a saúde de todas as estruturas envolvidas. O resultado final deve buscar um saudável ‘zero-a-zero’.
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