foto: Lois Greenfield 1992 ballet tech
Revestindo órgãos, conectando músculos, delimitando espaços, atravessando o corpo em todas as direções, a fáscia representa um manto de tecido conjuntivo que envolve todo o corpo humano, do plano estrutural ao nível molecular.
Apesar de diferenças em sua composição e organização, a fáscia é um tecido contínuo.
Os limites escassos, de natureza irregular, tornam a fáscia desprezível ao bisturi do anatomista, que busca continuamente as fronteiras das coisas a serem destrinchadas e nomeadas. Assim, durante muito tempo, a fáscia foi segregada dos livros de anatomia e sua textura translúcida tornou-se algo a ser removido das representações para que se pudesse “enxergar alguma coisa”. Neste contexto, apenas músculos vermelhos e brilhantes, que ligam os ossos em pontos específicos e bem definidos, poderiam oferecer sentido ao movimento.
No corpo humano, os músculos raramente transmitem toda sua força aos ossos via tendões, como sugerem as cartilhas de anatomia. A contração ou tensão dos músculos é antes transmitida para as lâminas de fáscia que redistribuem amplamente essa força, afetando não apenas as articulações, mas estruturas e tecidos adjacentes. Questões do tipo: “quais músculos estão participando da ação” tornam-se obsoletas.
Dois sistemas (A e B) de transmissão de força da unidade contrátil do músculo ao tecido conjuntivo (C) que os cerca.
O movimento depende não apenas das fibras musculares, mas em grande medida de como o leito conjuntivo que as sustenta organiza o movimento.
De princípio, a prática de Yoga não engaja apenas um músculo, articulação ou segmento na execução dos movimentos e portanto a fáscia, como elemento de ligação, faz-se presente o tempo todo. Não é possível, por exemplo, realizar posturas de flexão sem considerar a tira contínua de tecido miofascial que se estende desde os dedos dos pés até o crânio, recobrindo toda a parte posterior das pernas e tronco.
Posturas de flexão na prática de Yoga engajam linhas posteriores superficiais.
Da mesma maneira, não há como ignorar a importância das linhas anteriores e laterais de tecido conjuntivo que se organizam de modo contínuo em posturas que envolvam inclinação lateral e extensão.
Já as linhas funcionais, que conectam lateral e ântero-posteriormente o corpo de modo espiral são implicadas nas rotações de modo híbrido, recobrando linhas posteriores e anteriores.
Parivritti Parsvakonasana e as linhas superficiais e funcionais.
As bandas superficiais de tecido incluem linhas profundas que envolvem os músculos do “core”, atuam em sinergia e de maneira indissociável das demais linhas, como na prática de Pilates.
foto: Louis Greenfield
A abordagem mecânica, em que o movimento é picotado e repetido em pequenas parcelas, reproduz a análise pedagógica do atlas anatômico mas não corresponde à ação em sua plenitude. Não se trata de eliminar ou negar o papel do músculo como unidade funcional, mas incluir nos exercícios e terapias novas premissas que abarquem estruturas historicamente divorciadas de seu meio, expondo sua íntima relação com o movimento.
Leituras bacanas: “Anatomy Trains” de Thomas W. Myers; “Fascia: The Tensional Network of the Human Body” de Robert Schleip; além do admirável trabalho de Peter Huijing.
gostei das matérias, me ajudou a entender um pouco mais sobre meu corpo.
saudaçoes
silvia