“O principal dever de todos que cultuam a paz é chamar a atenção sobre as frases feitas que tão facilmente ocupam o lugar de fatos e idéias em época de conflito.”
Faltavam três dias para o início da Primeira Guerra Mundial, quando o educador americano John Dewey (1859–1952) escreveu sobre o futuro do paciifismo na América. A perspectiva de Dewey poderia muito bem ser aplicada sobre a ascensão da intolerância e do ódio em qualquer lugar, em qualquer momento.
Hoje, quando se encara o aumento da violência dentro de um espectro tão amplo que vai do bullying à legitimação do estupro, da banalização da tortura à agressão cotidiana, Dewey escreveu:
“Não existe paradoxo no fato de um povo ser pacifista e, ao mesmo tempo, ser intolerante contra aqueles que pregam e lutam pela paz. O fracasso do discurso pacifista reside em não estabelecer uma meta para uma nação já convertida ao pacifismo em princípio”.
Lamentando a crença popular de que o pacifismo é um “gesto fútil” e significa “ausênciade ação”, Dewey refutava à época o pensamento simplista de que “todos que não sustentam a guerra, filiam-se ao inimigo”. A paz não é sinônimo de “laissez-fair” e depende de uma agenda positiva e metas a serem conquistadas.
“O que é o futuro se o imaginamos próspero?”, perguntava-se Dewey. “O fim da violência não se dá através da teoria. É preciso ação presente.”
“Eu tenho pouca paciência com aqueles que estão tão ansiosos em salvar sua influência futura que nunca a arriscam para tratar das emergências presentes. Temos a responsabilidade individual de usar toda nossa influência, nossa voz e poder para desmontar a propaganda do ódio.”
O ferramental midiático cresceu exponencialmente desde Dewey e, sobretudo, democratizou-se. A “responsabilidade individual” presente em cada click digitado tornou-se, hoje, a grande mídia. Talvez não sejamos mais os consumidores passivos de frases prontas do século passado. Assumimos o papel de propagadores e cúmplices de idéias. Devemos nos perguntar novamente: “O que é o futuro se o imaginamos próspero?”