Crianças contam o passar das horas, dias, semanas. Adultos contam anos e décadas.
Para uma criança, um mundo novo se revela a cada instante e exige novos padrões motores para fazer frente à diversidade de estímulos que surge em um piscar de olhos.
A oportunidade de vivenciar contextos diferentes dá origem a novos e mais complexos comportamentos e modificam a experiência do tempo. Uma criança acostumada a desenvolver novas estratégias motoras para responder ao ambiente amadurecerá com qualidade de vida. Situação bem diferente daquela que, em algum momento, sucumbe à rotina.
Para quem se dispõe a enfrentar novos desafios, a idade não é linear e admite certa ‘margem de erro’, dada a interação e independência de cada um frente ao meio. Logo, o envelhecimento não pode ser definido pela deterioração do corpo pelo tempo, mas principalmente pela inaptidão do corpo em responder às adversidades ambientais. Se envelhecer é certo, as perdas decorrentes do envelhecimento não podem ser expressas cronologicamente.
A incapacidade adaptativa surge com a perda da mobilidade e flexibilidade, variáveis que não são dependentes da idade, mas relacionadas à idade.
A perda da flexibilidade como conseqüência da idade tem impacto negativo sobre o grau de independência. Flexibilidade é diretamente proporcional à quantidade, freqüência e variabilidade motora. Quando o repertório gestual torna-se pobre, a resposta ambiental é menos eficiente e aumenta o desgaste do corpo mesmo durante a realização de atividades simples e cotidianas. Logo, o movimento vira sinônimo de risco e o medo uma constante: tende-se a fazer cada vez mais do mesmo.
A repetição de padrões motores, a monotonia gestual como resposta a estímulos diversificados, leva a uma experiência igualmente repetitiva. Neste contexto, o tempo passa a ser vivenciado em grandes blocos, pois não mais se distingue a experiência atual da anterior.
De dentro para fora, flexibilidade ganha um sentido mais amplo, muito além do indicado pelo transferidor. Explorar com todo requinte o movimento disponível no corpo significa ter a capacidade de gerir o próprio espaço, enriquecer a experiência de vida e explorar profundamente cada minuto em sua peculiar exclusividade. Significa, em última instância, estar presente.
Dicas de leituras relacionadas:
Willardson JM & Tudor-Locke C(2005): Survival of the strongest: a brief review examining the association between muscular fitness and mortality. Strength & Conditioning Journal 27: 80-85
Lieber, R. L., & Lieber, R. L. (2002). Skeletal muscle structure, function & plasticity: The physiological basis of rehabilitation. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.