A dor é um chamado para a mudança de comportamento, um alerta para a impossibilidade de adaptação do organismo ao estresse e não pode ser entendida apenas como um impulso evocado por lesão, inflamação ou outra doença.
Nosso desenvolvimento saudável depende do rápido reconhecimento de tudo aquilo que põe em risco a saúde, afastando-nos dos perigos. Ou seja, envolve a aquisição de uma memória para o sofrimento.
A habilidade em sentir dor, até mesmo pequenos desconfortos, é biologicamente significativa porque assegura proteção, ótimas condições para a cura e contribui para o equilíbrio geral do corpo. Então, por que a dor erra o alvo com tanta frequência, surgindo muitas vezes sem uma causa relacionada?
Dores nas costas, de cabeça, musculares, nervosas ou ósseas não parecem ter um propósito discernível, já que a dor costuma ser mais incapacitante que a própria doença que a causa.
O impulso nervoso originado de um estímulo doloroso altera as propriedades do receptor nervoso até os centros de “entendimento” da dor, no cérebro. Muito mais que um potencial elétrico que se propaga pelo corpo, a dor é uma experiência emocional e sensória. “A dor está mais ligada a uma opinião sobre o estado de saúde do organismo do que a um mero reflexo a uma lesão.” Ramachadran and Blakeslee.
Sistema ascendente de transmissão da dor (roxo). Sistemas descendentes de modulação da dor, onde os neurônios podem inibir (verde) ou facilitar (vermelho) a dor. O PAG –periaquedutal cinzento – ‘decide’ se estimula ou inibe o estímulo doloroso a partir de instruções recebidas de várias partes do cérebro, dependendo do estado emocional e das expectativas do indivíduo.
O cérebro modula a dor que sentimos a partir de uma matriz que envolve muitas variáveis, geneticamente determinadas e modificadas pela experiência sensória.
Neuromatrix de Melzack para a dor.
Não existe um “centro da dor” e redes neuronais complexas contribuem para sua ativação e formação. Isso implica em afirmar que a dor pode surgir a partir destas redes, não necessariamente a partir de uma causa evidente. Não se deve, portanto, discernir dor orgânica e psicológica, pois toda dor envolve necessariamente os dois aspectos, ainda que em proporções distintas.