O Corpo Elétrico.

Mariacarla Boscono by Tim Walker for Vogue Italia March 2014

foto:Tim Walker

A expressão da face raramente importa,

A expressão de um homem maduro não só aparece em seu rosto,

Em seus membros e articulações também, e curiosamente em seus quadris e punhos,

É em sua caminhada, no carrear de seu pescoço, na flexão de sua cintura e joelhos, que as vestimentas não escondem,

Onde sua forte sutileza salta do algodão e casimira.

Vê-lo passar transmite tanto quanto o melhor poema, talvez mais (…)

“I sing the body electric” Walt Whitman (1855)

Nosso corpo é inerentemente instável e estruturalmente plástico. Instável pois designado para o movimento e plástico para acomodar os movimentos respiratórios, peristálticos, cardiovasculares e outros que abriga. Características estas que nos esculpem e modelam de acordo com o meio que habitamos.

A maneira como o ambiente nos apóia e acolhe desde o nascimento determina nossa postura.  Não apenas a postura enquanto alinhamento estático, dissociado daquilo que sentimos e pensamos, mas sobretudo a postura enquanto experiência emocional, resultado de nosso movimento no mundo.

Se a sensação de suporte é fraca, sentimo-nos cronicamente inseguros e nossos músculos ativam-se exageradamente para devolver-nos o chão perdido.  “Podemos ainda ganhar peso para fazer frente à sensação de deriva” (Mary Bond).

Na tentativa de controlar situações estressantes, contraímos músculos de maneira a bloquear os movimentos, reduzindo a mobilidade das articulações. Quando os músculos que atravessam uma articulação contraem-se simultaneamente, o movimento é cerceado.  Sob estresse, esse tipo de ativação é contínua.

Movimentar-se dentro desta armadura exige grande esforço e gasto energético.  A tentativa de sentir-se menos vulnerável apresenta conseqüências muito além do movimento.

“Black and Roses” Kristen McMenamy by Tim Walker for Vogue Italia October 2012.

“Black and Roses” Tim Walker

A natureza dos músculos depende, em certa medida, do tipo de estímulo elétrico que recebe do Sistema Nervoso.  Um estímulo contínuo, como o desencadeado por situações de estresse, tornará músculos flexíveis, habituados a grandes excursões funcionais, rígidos e tônicos como músculos posturais.

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Fibras posturais (escuras) e fásicas (claras) estão presentes em quantidades determinadas genética e funcionalmente nos músculos humanos. imagem: ANAPAT UNICAMP.

Desta maneira, quando respostas estressantes viram hábito, a postura e a mobilidade incorporam a tensão.

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Rigidez no músculo Trapézio (fibras descendentes) é comumente associada a tensão prolongada.

Por outro lado, se a sensação de deriva der espaço às âncoras impostas pelo ambiente, ficamos incapazes de nos movimentar expansivamente, o que reduz nosso aprendizado motor.  A cautela, o movimento contido dentro de espaços cada vez menores, retroalimenta o medo daquilo posto além das fronteiras, da experiência estrangeira.

O movimento torna-se cada vez menos amplo  e as possibilidades confinadas a um organismo débil. As perspectivas ficam atadas a perspectivas estreitas e a crenças cada vez mais conservadoras.

Vogue Italia 2000, by Tim Walker ☮k☮ #TiMwAlKeR

foto: Tim Walker

O paradigma de postura enquanto alinhamento estático, dissociado daquilo que sentimos e pensamos, está superado e não pode ser definido somente a partir da silhueta do corpo. É preciso olhar além do corpo estagnado e entender a postura como uma atividade dinâmica. Só assim se entreabre nossa relação com o mundo.

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