Mabel Elsworth Todd
A professora de oratória Mabel E. Todd (1880 – 1956) percebeu que a dificuldade enfrentada por seus clientes em se expressar estava intimamente relacionada a questões emocionais, posturais e motoras. O olhar acurado desta novaiorquina de Siracusa a levou muito além: através de uma linguagem simples, que se esforçava para descrever fenômenos ainda hoje complexos, publicou seu único livro: “The Thinking Body” (1937).
Nunca editado em língua portuguesa, “The Thinking Body” inova ao trazer já à época a indissociável relação entre corpo e mente. Ler Mabel Todd hoje significa buscar em suas linhas o que ainda há para ser descoberto sob a argúcia de sua percepção.
Segue a tradução do capítulo de abertura: “A Função e a Forma da Dinâmica Humana”.
Vivendo, o corpo carrega seu significado e relata sua própria história, em pé, sentado, andando, acordado ou dormindo. Ele escancara a vida na cara do filósofo e nas pernas do bailarino. Um mundo casual enfatiza o rosto. A memória gosta de trazer à tona o corpo todo. Não é a cara de nossos pais que vem à tona em nossas lembranças, mas seus corpos em suas cadeiras, comendo, costurando, fumando, fazendo suas atividades costumeiras. Nós nos lembramos de cada um como um corpo em ação.
O comportamento é raramente racional; ele é habitualmente emocional. Nós podemos dizer palavras sábias como resultado da razão, mas o ser como um todo reage ao sentimento. Para cada pensamento sustentado por um sentimento há a alteração de um músculo. Os padrões musculares primários tem sido a herança biológica do homem, o corpo do homem como um todo grava sua conduta emocional.
O explorador e o pioneiro ficam em pé; o capataz e o magnata recuam. Hamlet anda, Shylock estende sua mão, Carmem apoiando-se sobre um pé, com mãos nos quadris e com olhos sobre o ombro, exige. As posturas na tradição dramática cristalizam a teoria de seus atores, ensinam o desenho de seus corpos e o jovem estuda os retratos das qualidades épicas no movimento. A culpa, a astúcia, a perspicácia, a mesquinhez, o êxtase e a sedução aparecem em certos arranjos de braços, mãos, pescoço, cabeça e ombros. Assim, o conteúdo dos tempos é apreendido pela inteligência, mas interpretado e levado a cabo pelo movimento. A personalidade entra na estrutura – pela negação ou afirmação de uma pessoa. Esse é um aspecto da evolução da vida.
Exercícios no estúdio de Mabel Todd em Boston
A auto-expressão está nos equipamentos mentais e emocionais, temperamento, personalidades, experiências e preconceitos, influenciando e controlando a relação das partes do corpo com o todo. Esse equipamento inclui a unidade motora para o movimento – a ação neuromuscular sobre os ossos. Músculos que agem automaticamente. Quando agem, movem os ossos. A posição dos ossos no homem desempenha um papel fundamental em seu senso de controle e posição no mundo. Como ele posiciona os ossos determina seu grau de auto-controle; eles são continuamente alinhados e desalinhados ao ritmo do movimento. Mecânica, física e fisiologicamente, o corpo humano é compelido a lutar por um estado de equilíbrio.
A abordagem fisiológica do estudo da dinâmica do corpo está baseada no fato de que o sistema neuromuscular é a unidade que determina o movimento organizado. Mecanicamente, unidades separadas do corpo estão se movimentando através do tempo e do espaço. A unidade neuromuscular é a unidade motriz do movimento. Fisiologicamente vários estímulos preparam os músculos para sua resposta. O estímulo, quer seja interno ou externo, deve ser correlacionado. Isso envolve fatores psicológicos que afetam a resposta.
Para cada estímulo existe uma resposta motora. O número de partes envolvidas na resposta motora está condicionado pelo comportamento, inserção social, assim como pela sua compleição física. O indivíduo é uma totalidade e não pode ser segregado em intelecto, corpo ou fatores sociais. Tudo está correlacionado.
A correlação entre os estímulos viscerais, psíquicos e periféricos sublinham a resposta muscular e envolvem completamente o homem. O corpo, animado como um todo, vem a ser um instrumento sensitivo que responde aos estímulos com uma sabedoria muito além daquela atribuída pelos homens à consciência ou razão.
Nós agora percebemos que para a economia física do indivíduo, muitos sistemas devem estar trabalhando em uníssono e equilíbrio. Nós percebemos que a função precede a estrutura, o pensamento precede a mente, o verbo precede o substantivo, algo só é experimentado após a coisa toda ter sido feito. Tudo se move, e no caminho do movimento, a vida é objetivada.