Escultura de Isidro Ferrer.
A maneira como nos movemos depende diretamente de como nos sentimos. O que sentimos depende diretamente de como nos movemos. A comunhão entre movimento e sensibilidade consagra a lógica que rege e define o sistema nervoso.
Acordados ou dormindo, em alerta ou fatigados, famintos ou saciados. Expressamos continuamente o que sentimos através de nossas emoções e ações. O sistema nervoso determina nossa maneira de sentir e agir, sendo igualmente moldado e estruturado por nossas demandas.
Ilustração Puño
Longe de imaginá-lo pronto e acabado, o corpo se desenvolve a partir de reflexos fundamentais que estão presentes desde a gestação e se modificam gradualmente até que alcancem o mais alto nível de controle cortical consciente. O organismo é, portanto, a própria resultante entre vetores inatos e extrínsecos, e conforma um ser único que usufruirá de uma perspectiva singular da realidade.
O corpo expressa continuamente nossa maneira de estar no mundo, nossa identidade, e não pode ser entendido como um objeto separado do sujeito. Sendo expressão, melhor é entendê-lo como obra de arte, uma música, uma pintura, ou seja, algo que existe ao irradiar continuamente seu significado.
Agence Eureka
Somos um sujeito corpóreo. Não há fantasma sob nossa pele ou diferença ontológica entre mente e corpo. Existem, sim, duas maneiras de caracterizar o mesmo organismo: uma que aborda o corpo em relação ao mundo e outra que se refere ao corpo enquanto expressão da subjetividade. Para entender o indivíduo, portanto, devemos perguntar como este corpo se relaciona com o mundo e como se relaciona com si mesmo.
Pablo Picasso, femme assise devant la fenetre. 1937
A análise do hiato entre corpo enquanto subjetividade e do organismo no mundo abre uma janela para contemplar a natureza do indivíduo. Não se trata mais de observar sua essência causal, distinta do mundo, reflexo da vida, mas notar sua natureza interventora, que conecta perspectivas, une ângulos, constrói e reconstrói continuamente o mundo, criando a própria existência.
“Quando percebo, não penso o mundo, ele organiza-se diante de mim.” Merleau Ponty