Lugar de difícil acesso, fora dos mapas e conhecido por poucos. Impossível de ser abarcado por palavras, mas cuja existência é certa. Rtambhara oferece uma visão privilegiada a todos que lá chegaram e é o destino mais procurado por aqueles que se propõe a entender melhor suas próprias origens. De todos que lá estiveram nunca ninguém jamais esqueceu Rtambhara.
Chegando em Rtambhara tudo passa a ser compreendido. Não se trata de saberes comuns, da tradição e da inferência, não mais os saberes cognitivos da lógica e da dedução, mas um conhecimento que nasce naturalmente, como resultado do completo e absoluto estado de lucidez. Como descrito nos Yoga Sutras de Patanjali, em Rtambhara o saber intuitivo contém a verdade.
Podemos dizer com razoável segurança que os Yoga Sutras são uma compilação sobre um conhecimento que já era amplamente difundido no Oriente no momento de seu aparecimento e cujos conceitos podem ser observados em diversas tradições filosóficas como no Budismo, Taoismo ou Sufismo por exemplo. Datado do segundo século DC, os Sutras são o fio condutor que levam ao Yoga ou, resumidamente, à comunhão. Assim os Yoga Sutras delineam as práticas que devem ser realizadas, os obstáculos que serão encontrados, os resultados que serão obtidos por todos aqueles que se prontificam a seguir o caminho do Yoga. Ou seja, um verdadeiro mapa para quem busca encontrar-se consigo mesmo.
Este mapa versa sobre as condutas morais (yamas), individuais (nyamas), atividades físicas (ásanas) e técnicas respiratórios (pranayamas) que pavimentam o caminho para a autonomia dos sentidos (pratyahara), concentração (dharana), meditação (dhyana) e dissolução (samadhi). Notadamente, não há hierarquia entre estes pontos: à medida que um destes pontos (angas) se desenvolve, os outros também ganham peso. Entretanto apenas alguns destes pontos podem ser aprendidos.
Distante daquilo que se convencionou chamar de “aprendizagem” do lado de cá dos Urais, aprender significa vivenciar, experimentar, pois “uma imagem evocada por palavras, dissociada da experiência, é fantasia” (Yoga Sutra I.9). Você pode conhecer o significado de ahimsa, por exemplo, após ter lido muito e discorrer horas sobre o conceito de não-violência, citando Gandhi e tudo mais. Porém, se você não é capaz de por este yama em prática ou sequer entender a importância deste yama para a sua vida e a vida dos demais, não pode afirmar que o aprendeu.
Ásanas (posturas física) e pranayamas (práticas respiratórias) resumem o que há para ser ensinado e aprendido dentro do Yoga. A prática diligente de ásanas e pranayamas criam as condições para que os outros angas comecem a ganhar corpo e venham a se tornar valores importantes na vida do yogue. Nossa mente, ainda que inconstante e vaga, pode facilmente engajar-se na prática do ásana enquanto o corpo se move para ganhar alinhamento e estabilidade. Assim, alinha-se o corpo para centrar a mente e a mente, serena, está pronta para seu caminho em direção a Rtambhara.
B.K.S. Iyengar diz, “se alguém lhe ensinar a meditar, desconfie” e também afirma “yoga sem meditação é uma árvore sem frutos”. A aparente incoerência faz sentido quando entendemos que ásanas e pranayamas criam as condições para que se possa manter a concentração e o foco na meditação e começar a trilhar um caminho que é único no universo, pessoal e intransferível.
Ter comprometimento e disciplina para continuar andando em direção a Rtambhara faz parte da prática do yogue. Caminha-se nesta direção naturalmente, mesmo desconhecendo o mapa, sem acesso aos pontos de referência e alienado de indicadores, pois o yogue intui, ásana pós ásana, ser este seu caminho.
Talvez seja este o motivo que leva tanta gente a afirmar – com razão – que yogues são pouco afeitos à teoria e dedicam-se em demasia à prática. Quem escolheu este caminho, afinal, sabe que a trilha faz parte da aventura.