Quando você ouve a palavra “musculação” logo vem à mente a imagem de numerosas repetições de contração muscular usando anilhas de peso, sistemas de polias, roldanas e a consequente dor muscular. Mas se você já sentiu dor nos braços, pernas ou abdomem após uma boa aula de Yoga pode ter se questionado onde estavam escondidos os pesos .
Especialistas recomendam que alguma forma de musculação deva ser feita ao menos duas vezes por semana para manter um metabolismo eficiente. O trabalho com sobrepeso é também amplamente indicado por médicos para conter a perda de tecido ósseo e prevenir um sem-número de doenças degenerativas.
Para muitos de nós, essa conjuntura projeta uma visão de eterna escravidão às máquinas de musculação, barras de alteres e esteiras ao som de Kylie Minogue. Será que a prática de Yoga não pode substituir o trabalho com pesos e nos livrar de uma perspectiva tão sinistra quanto “Baby I can´t get you out of my head”?
O yogue norte-americano Rodney Yee costuma dizer que levanta pesos com frequência, “eu sempre levanto o meu corpo”. Quando você realiza posturas de Yoga, explica Yee, você está colocando seu corpo em determinadas posições onde sua força deve ser mobilizada para sustentar o seu peso.
Como muitos yoguis, Yee não gosta de encarar o Yoga como uma forma de esculpir o corpo. Os praticantes devem entender o Yoga como uma forma de pensar e agir com disciplina, comprometimento e foco, o que difere basicamente das preocupações com a aparência e estética.
Ainda assim, quando você pratica Yoga, pode se questionar de onde vai sair tanta força para manter-se em determinadas posturas por tanto tempo e até pensar no trabalho com pesos como uma forma de auxiliar na realização de determinadas posturas.
O Conselho Americano para o Exercício Físico define musculação como “exercícios com resistência progressiva com o propósito de fortalecer o sistema músculo-esquelético”, ou seja, uma vez que seu músculo se adapta a uma determinada carga, você deve aumentar a carga para continuar usufruindo dos mesmos resultados. Teoricamente você pode continuar a aumentar a força e o tamanho de seus músculos para sempre, desde que você continue a aumentar o peso.
No espectro oposto, a prática de Yoga ampara-se na contração excêntrica dos músculos. A resistência é oferecida pelo alongamento dos músculos, assim a resistência aumenta à medida que o músculo alonga. Dentro do método de hatha Yoga proposto por B.K.S. Iyengar, somos solicitados a coordenar os movimentos dos músculos agonistas e antagonistas dentro do princípio da “intrinsecacidade”, ou seja, em algumas posturas somos levados a contrair músculos que estão sendo alongados (facilitação proprioceptiva neuromuscular) e em outras devemos deliberadamente relaxar os músculos que não estão participando da ação (inibição recíproca).
Já a contração isotônica proporcionada pelas séries de musculação, tornam o músculo mais curto e mais inchado à medida que se contrai. Com o tempo, a ausência de um trabalho equivalente de alongamento deixa o músculo sem definição – com aparência de “bombado” – e, principalmente, sem amplitude suficiente para mobilizar quantidade satisfatória de força. Essa forma de contração é evitada em Iyengar Yoga. Para realizar posturas que exigem força, somos levados a criar trações internas dos músculos e da pele. Como resultado, os músculos passam a ser exigidos em uma base alongada.
Músculos alongados atingem mais cedo o auge da força, ou seja, funcionam melhor. Essa antecipação se torna viável porque alongar promove uma multiplicação dos sarcômeros (unidades contráteis dos músculos). Os músculos são formados por células bem compridas, as fibras, que, por sua vez, possuem minúsculas estruturas alinhadas, os sarcômeros. Quanto mais dessas estruturas, mais cada fibra consegue se esticar e também mais tempo ela consegue ficar fazendo força. Desta maneira, a prática de Yoga aumenta a “endurance”.
Por fim, vale destacar que o princípio da musculação visa isolar cada grupo muscular a ser trabalhado, o que é imprescindível para fins específicos como o tratamento de lesões, por exemplo. Enquanto o yoga trabalha o corpo todo o tempo todo, equilibrando e desenvolvendo todos os músculos, simultaneamente, em cada postura.