Aprender a Desenhar.

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BKS Iyengar por Coni Hörler

O ser humano percorre o mais longo aprendizado dentre todas as espécies até conseguir movimentar-se de maneira autônoma. O que parece ser uma desvantagem competitiva esconde uma chave evolutiva: O homo sapiens é uma página em branco, onde será desenhado parte de seu sistema nervoso, adaptando o indivíduo às condições do meio e do momento.

Do movimento reflexo realizado pelo recém-nascido até o gesto consciente executado com precisão, há um longo caminho.  A diferenciação entre o grosseiro e o sutil demanda aprendizado. Se ensinado, o sistema nervoso passa a distinguir o movimento voluntário exigido para o desempenho de determinada atividade motora, daquele componente supérfluo proveniente do hábito ou imaturidade, podendo inibí-lo.

Neste processo, caso um segmento do corpo seja negligenciado, a área no cérebro relativa a sua atividade também se retrai, podendo mesmo deixar de existir.  Por outro lado, se para suprir uma deficiência ou atender a uma necessidade certos movimentos passam a ser exigidos, os neurônios necessários à sua execução irão estabelecer novas conexões.

O neurologista Wilder Penfield já havia mostrado que a área do corpo representada no cérebro é proporcional à freqüência e precisão com que é requisitada. Assim, enriquecer o vocabulário gestual aumenta a representação cortical referente à área trabalhada.  Por outro lado, movimentos que ocorrem ao mesmo tempo tendem a estabelecer uma forte correlação nervosa, o que torna sua diferenciação mais difícil à medida que o tempo passa.

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Representação do corpo em função da área cortical. Movimento voluntário. Penfield.

Séries intermináveis de exercícios repetitivos tendem a consolidar movimentos parasitários e construir uma barreira ao aprendizado. Gestos compulsivos, resistidos e automáticos não contribuem para o desenvolvimento motor porque exigem aumento na quantidade de estímulos nervosos e não qualidade, tornando o corpo emburrecido com o tempo, pois inapto a mudanças. Em termos neuromusculares, a repetição é inimiga da consciência.

São os movimentos sutis e lentos que abrem espaço para a reflexão entre a vontade e a ação. Quando a atenção recai sobre o gesto, em seus mais ínfimos detalhes, cria-se espaço para que mudanças possam ser incorporadas ao movimento, enriquecendo-o.

A espontaneidade , a imprevisibilidade e o erro fazem parte do aprendizado motor e ajudam a desenvolver uma inteligência que irá preparar o corpo para as mudanças mais radicais, dentre todas, aquelas impostas pelo tempo.

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